quinta-feira, 31 de março de 2016

EDUCAÇÃO INFANTIL: A LUDICIDADE COMO FOCO DA APRENDIZAGEM E OS SABERES “ESCONDIDOS” NAS ROTINAS.



EDUCAÇÃO INFANTIL: A LUDICIDADE COMO FOCO DA APRENDIZAGEM E OS SABERES “ESCONDIDOS” NAS ROTINAS.

                                        Andréa Diana Heylmann[1]
Angelita Fülle [2]

Resumo
Este artigo busca esclarecer algumas questões que dizem respeito ao trabalho na educação infantil, tendo a ludicidade como caminho para a construção das aprendizagens. Para tanto, no decorrer do texto, temas como a rotina da educação infantil, influências do ambiente escolar, atividades lúdicas, aprendizagem significativa se entrelaçam mostrando que é possível rimar aprender com prazer, utilizando o brincar como ferramenta de trabalho na educação infantil. Como fundamentação teórica deste estudo, trazemos autores como Tãnia Ramos Fortuna, Miguel A. Zabalza, Cláudia Inês Horn, Maria Carmen Silveira Barbosa, Maria da Graça Souza Horn, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que embasam as atividades lúdicas descritas no corpo do artigo.  Podemos inferir que é possível construir com as crianças da educação infantil, nos mais variados momentos do dia, diversas aprendizagens significativas tendo como base a ludicidade.

Palavras-chave: Educação Infantil. Ludicidade. Rotinas. Aprendizagem Significativa.

1.INTRODUÇÃO

A proposta de desenvolver a aprendizagem através de metodologias lúdicas, desde a Educação Infantil até aos anos iniciais do Ensino Fundamental, auxilia no desenvolvimento de habilidades e competências de maneira efetiva. Contudo, o que se tem visto atualmente é que muitas escolas de educação infantil, priorizando o ensino das letras e números com o intuito de preparar as crianças para o seu ingresso no Ensino Fundamental, acabam por limitar o tempo de brincar. Outras escolas por sua vez, de cunho assistencialista, priorizam o cuidar alegando que a criança tem a vida inteira pela frente para aprender e que nesta idade precisam apenas brincar. Assim sendo, estas escolas propõe momentos para as crianças brincarem livremente, mas sem objetivos específicos para isso. 


Sabe-se da importância que o brincar tem no desenvolvimento das crianças, e que muitas vezes, ele deve ter um fim em si mesmo, ou seja, que este seja um momento prazeroso para as crianças sem que se tenha qualquer outro objetivo a não ser o brincar propriamente dito. Todavia também é sabido que as brincadeiras com objetivos bem esclarecidos podem se tornar importantes aliados na construção de aprendizagens.

Ao encontro disso, o presente artigo busca tecer uma importante reflexão a respeito de como as atividades presentes nas rotinas das escolas de educação infantil e a ludicidade podem favorecer a aprendizagem das crianças.
Inicialmente serão feitas algumas considerações sobre a educação infantil e após a ludicidade será abordada a partir de uma fundamentação teórica sobre a aprendizagem lúdica, somando a isto alguns exemplos de atividades. A seguir será feito um breve relato sobre as aprendizagens construídas pelas crianças a partir de momentos da rotina, e finalizando, serão apontadas as conclusões chegadas com este estudo.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), datada de 2010, o trabalho com crianças nesta etapa da educação básica, que compreende crianças entre 0 e 5 anos de idade, está pautado em dois eixos que são as brincadeiras e as interações. Assim sendo, o trabalho do professor de educação infantil não é preparar aulas e sim propor intervenções, nas quais ele se preocupa em preparar para seus alunos, um ambiente rico em estímulos, com materiais concretos, brinquedos, brincadeiras e atividades lúdicas. O aluno da educação infantil, que nesta etapa da educação básica é chamado apenas de criança, aprende através de suas interações com este ambiente. Vale ressaltar que se entende por ambiente, além dos espaços físicos, materiais e brinquedos que estão à disposição das crianças na sala de referência, (forma pela qual nos referimos às salas de aula na educação infantil), também as relações que ocorrem nestes espaços. Forneiro define o ambiente escolar da seguinte forma:

Quando entramos em uma escola, as paredes, os móveis e a sua distribuição, os espaços mortos, as pessoas, a decoração, etc. Tudo nos fala do tipo de atividades que se realizam, da comunicação entre os alunos(as) dos diferentes grupos, das relações com o mundo externo, dos interesses dos alunos(as) e dos professores (as). (1998, p.232).

Já o currículo da educação infantil de acordo com as diretrizes, é entendido na seguinte perspectiva:

“... conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.” (2010, p.12).

Em outras palavras pode-se dizer que currículo é tudo que acontece nas escolas de Educação Infantil, desde a chegada da criança até a sua saída. Não se refere apenas as atividades dirigidas com objetivos específicos relacionados aos assuntos em estudo, mas também a forma como planejamos os momentos de brincar, os brinquedos e materiais que colocamos a disposição das crianças, a forma como lidamos com as questões relacionadas ao desenvolvimento da sua autonomia, como a alimentação, higiene, comportamento, dentre outros exemplos. Faz parte do currículo pensar que tipo de cidadão queremos preparar com as nossas práticas docentes.
Esclarecido até aqui algumas informações sobre o trabalho nas escolas de educação infantil, será refletido a seguir sobre algumas questões presentes no cotidiano destas escolas no que diz respeito ao tipo de atividades desenvolvidas nestes espaços e como estas podem ou não, favorecer a aprendizagens das crianças que ali se encontram.

2.1 ATIVIDADES LÚDICAS COMO ALIADAS ÀS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

            Que as crianças aprendem com o corpo e consequentemente precisam de espaço para se desenvolverem integralmente todos sabem. No entanto, inúmeros fatores contribuem para que isto nem sempre seja possível. Seja a falta de vagas nas escolas de educação infantil, o crescente aumento do número de matriculas nas pré-escolas a partir do ano de 2016, que por meio da Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013 torna obrigatória a frequência de crianças de 4 a 6 anos na educação infantil, salas de aula pequenas, construções inadequadas sem o planejamento de espaços adequados, dentre outros fatores. Dadas as circunstâncias, o que pretendemos aqui é pensar em alternativas para que o professor possa tirar o maior proveito possível do espaço da escola, bem como da sua sala de referência, buscando fazer com que as crianças desenvolvam atividades significativas, tendo como foco a ludicidade.
Entende-se por lúdico, toda e qualquer atividade prazerosa e divertida proporcionada à crianças ou adultos que remetem ao entretenimento, ao jogar e ao brincar. Indiferente se for um jogo ou brincadeira dirigida por um adulto, ou uma brincadeira de faz de contas, ou então, brinquedos diversos em momentos livres. E o grande desafio das escolas é aliar o lúdico à aprendizagem, Fortuna defende que:

Uma escola ludicamente inspirada é aquela em que as características do brincar estão presentes, influindo no modo de ser do professor e no papel do aluno. Nessa escola, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável. O professor renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a importância de que a criança tenha uma postura ativa nas situações de aprendizagem. A espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas. [...] Uma escola lúdica é uma escola que assume o brincar: atividade livre, criativa, imprevisível, capaz de absorver a pessoa que brinca, não centrada na produtividade. Como brincar, na concepção de Winnicott, é um modo particular de viver, é preciso aprender a brincar para viver com prazer e, por extensão, aprender com prazer. (2014, p.29.)

O professor ao planejar as suas intervenções deve buscar soluções para que os seus alunos possam aprender com prazer, e em se tratando de educação infantil, desde os primeiros meses de vida já é possível ofertar ao bebê uma série de experiências sensoriais que promovam a descoberta do mundo que o cerca, de maneira divertida. A partir do momento em que o bebe é colocado em contato com diversas experiências sensoriais, como exploração de brinquedos e objetos de variadas texturas, cores, sons, aromas e temperaturas, ele se desenvolve em diversos aspectos ao mesmo tempo em que brinca.
Já maiores, as crianças costumam aprender melhor quando podem interagir com o corpo todo e quando o assunto a ser aprendido é significativo para elas.  Usar materiais concretos que podem ser manipulados, participar ativamente das atividades propostas, sair da sala de aula e aprender observando o mundo a sua volta são algumas das possibilidades de se desenvolver uma aprendizagem lúdica.
Antes de realizar as atividades no papel a criança precisa usar o corpo. Ela só estará pronta para desenvolver a motricidade fina quando já teve a oportunidade de desenvolver a sua motricidade ampla, por isto é importante permitir que as crianças brinquem com massa de modelar e tintas comestíveis desde os primeiros meses de vida para que possam se sujar e descobrir os limites do seu corpo e do papel, assim como os efeitos que suas ações causam em interação com determinados materiais.
Outro grande aliado do professor e das crianças na construção de aprendizagens significativas é o espaço escolar, mas para que isto aconteça, é imprescindível que se deixe de ver a sala de referência como única possibilidade. É fundamental desenvolver atividades ao ar livre, seja no pátio ou até mesmo no entorno escolar, promovendo passeios de estudos, expedições investigativas, dentre outras situações. Ou ainda, explorar os demais espaços da escola, usando a biblioteca (quando houver), para fazer contação de histórias ou apenas para manipular livros, realizar atividades no refeitório, como o preparo de uma receita, por exemplo. Dornelles defende uma educação significativa na passagem a seguir:
Onde está o movimento da descoberta, do prazer, da alegria, da vida, das emoções e do encantamento que rodeiam, a vida de muitas das nossas crianças? Muitas vezes damos lugar em nossas salas de aula apenas para o controle, a privação, a punição, a vigilância, o governo de si e do outro. Precisamos, em muitos casos, também resgatar o espaço do lúdico pelo lúdico, passear para curtir o que está ao nosso redor, assistir a um filme apenas por assistir, ouvir ou contar histórias ou teatros pelo mágico que eles carregam, curtir uma praça para poder rolar na grama, curtir o que é inerente a cada um desses espaços e não apenas para chegarmos na sala e termos que desenhar o que se viu ou ouviu, contar na hora da novidade o que as crianças mais gostaram no passeio, contar o que aconteceu no início, meio e fim da história, do teatro. Parece que tudo, na escola infantil, está sendo excessivamente pedagogizado, perdendo-se a idéia de prazer, que está inerente a cada atividade da criança. O prazer do brincar e esquecemos que: olhar, curtir, tocar, experimentar faz parte do ser criança, faz parte da descoberta na infância e da construção de novos sujeitos-criança. (2001, p.107)
 Embora todas as salas de referência tenham classes individuais ou mesas para as crianças sentarem em pequenos grupos, é importante que elas permaneçam sentadas em suas cadeiras apenas durante as atividades onde o seu uso se faça necessário, como nos casos de jogos de tabuleiro, folhas de papel, massa de modelar, dentre outras. Crianças pequenas precisam estar em constante movimento, por tanto as atividades devem ser curtas e priorizar o movimento do corpo, pois ao contrário dos adultos, as crianças não conseguem permanecer sentadas por longos períodos. Uma boa alternativa é intercalar momentos sentados em roda no tapete, brincar livremente com brinquedos a escolha do professor ou das crianças, atividades que necessitem do uso das mesas, brincadeiras dirigidas, dentre outras.  O professor ao planejar a sua prática deve ter em mente que existem inúmeras atividades e brincadeiras que oportunizam aprendizagens muito mais significativas do que aquelas de pintar, recortar, desenhar, e outras.
Para ensinar números e quantidades, por exemplo, pode-se fazer brincadeiras com dados. Por exemplo, após jogar um dado com os algarismos até 6, será possível trabalhar o reconhecimentos números e a contagem oral. Depois de verificar o numeral sorteado pelo dado, as crianças deverão contar e selecionar crianças na quantidade equivalente, colocando-as dentro de um círculo desenhado no chão, em uma caixa bem grande, ou ainda sobre um banco, dentre outras possibilidades. Com esta atividade, além dos conteúdos de matemática, também poderão exercer o direito de escolher e de ser escolhido, saber esperar a sua vez, movimentar-se, dentre outras possibilidades.
Ainda sobre os números, pode se fazer dentro da sala ou no pátio, uma pescaria com auxílio de uma banheira com água e um coador preso em uma vareta ou cabo de vassoura. Cada criança terá a oportunidade de pescar peixinhos feitos com E.V.A. da banheira e depois deverão realizar a contagem oral dos mesmos. Poderão ainda classificá-los de acordo com as cores e tamanhos, coloca-los em sequência seguindo a ordem de tamanho por exemplo. Num momento seguinte, poderão registrar no papel desenhando os peixinhos nas quantidades, cores e tamanhos equivalentes.  Enfim, com apenas uma atividade lúdica, é possível trabalhar ao mesmo tempo diversos conteúdos.
Para reconhecer e identificar as letras pode ser feita uma atividade com todas as crianças de pé, em roda no centro da sala com um grande círculo desenho no chão. Cada uma receberá a ficha do seu nome e a professora fará o sorteio de uma letra. Aquelas crianças que tiverem dentro de seu nome a letra sorteada, deverão colocar-se dentro do círculo desenhado no chão. Em conjunto será feita a contagem oral da quantidade de crianças da turma que tem a mesma letra. Nesta atividade, além de letras e números, as crianças também aprenderam a prestar atenção, observar o seu nome em busca da letra solicitada, identificar letras comuns no nome dos colegas, descobrindo que as mesmas letras, mas em posições diferentes servem para escrever palavras e nomes diferentes. Também puderam se movimentar e perceber que dentre um grupo grande de crianças, é possível formar grupos menores, e além da contagem oral de crianças ainda descobriram que letra se repete mais entre os nomes e qual menos. Em apenas alguns minutos durante a realização de uma atividade lúdica, as crianças puderam ter uma série de aprendizagens.
Para aprender mais sobre fenômenos da natureza, animais ou plantas é fundamental observar e investigar, buscando incentivar a curiosidade das crianças, permitindo desta forma que desenvolvam o desejo de aprender. Promover passeios pelo pátio ou arredores da escola, convidando pessoas da comunidade para dar palestras sobre os assuntos estudados, sugerindo passeios a eventos culturais, zoológicos, enfim, as possibilidades são várias.
Oferecer sucatas para as crianças criarem suas brincadeiras de faz de contas, ou ainda, incrementar estas brincadeiras colocando a disposição delas objetos que possam enriquecer as suas fantasias são ótimas opções para que as crianças aprendam na medida em que se divertem. Ao brincar de casinha, médico, mercadinho, por exemplo, as crianças estão assumindo diversos papeis sociais, ao passo que estão tendo contato com o mundo letrado, uma vez que podem “escrever” listas de compras, receitas, marcar consultas, “ler” bulas e rótulos, etc. Também podem escolher seus parceiros para as brincadeiras, negociar entre si quem irá desempenhar determinadas funções, montar os cenários, dividir responsabilidades. Através das brincadeiras de faz de contas, as crianças desenvolvem a sua autonomia, a criatividade, a imaginação e ainda aproximam-se brincando da cultura letrada.
Todas as atividades citadas até o presente momento favoreceram o movimento da criança, ou seja, elas aprenderam letras, números e quantidades e outros assuntos específicos, mas em momento algum deixaram de brincar e se movimentar, o que é fundamental em se tratando de crianças.
Privar a criança de viver intensamente em favor de um treinamento mecânico é represar sua energia, é não aproveitar suas capacidades, é podar-lhe a curiosidade, sua abertura para explorar o meio em que vive, é substituir a aprendizagem significativa pelo condicionamento, enfim, impedi-la de ser criança enquanto criança. (Horn, et al. 2014, p.144) 
Mesmo em sala de aula, as atividades devem ser diversificadas, dinâmicas e lúdicas. O professor pode trazer vídeos educativos sobre os assuntos em estudo, como por exemplo, o habiat natural, nascimento e alimentação de determinados animais.
Muitos jogos e brincadeiras também podem ser confeccionados e utilizados como ferramentas de aprendizagem, tornando assim as aulas mais interessantes. Jogos como “O jogo da forca”, “O carteiro chegou” são interessantes quando o objetivo é a aprendizagem do nome próprio ou o contato com as letras. Confeccionar jogos de bingo, de memória, quebra cabeças são ótimas alternativas e podem ser utilizados de acordo com os assuntos estudados nos projetos de aprendizagem desenvolvidos. Usar materiais reciclados na confecção dos jogos, como tampinhas de garrafas, caixas de leite e outros ensina as crianças ainda sobre a sustentabilidade.
Para trabalhar números e quantidades, brincadeiras com dados podem ser úteis. Um exemplo disso é colar escamas na sereia Yara, personagem do folclore brasileiro, na quantidade equivalente ao número sorteado. Neste caso, além de identificar o algarismo no dado, a criança terá que pegar e colar na sua sereia, escamas equivalentes, mostrando se tem a correspondência termo a termo ou se ainda precisa desenvolvê-la. Ainda de acordo com Horn:
Quando o brincar alcança um maior espaço nas atividades desenvolvidas em sala de aula ou as atividades apoiam-se no brincar livremente, torna-se pano de fundo da rotina escolar, o que é suficiente e satisfatório para o desenvolvimento de qualquer atividade e para uma aprendizagem significativa. (Horn et al.2014, p. 145)
Feita a discussão sobre a importância das atividades lúdicas e brincadeiras para a aprendizagem das crianças, passa-se agora a discorrer sobre as aprendizagens construídas nos momentos de rotina, exemplificando a partir do relato de experiências, o que foi trazido no primeiro capítulo do artigo, que se refere ao currículo da educação infantil, que está presente em todos os momentos, e não apenas nas atividades dirigidas.

2.2 APRENDIZAGENS PRESENTES NA ROTINA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: AS ATIVIDADES LÚDICAS DE CADA DIA REALIZADAS POR UMA TURMA DE PRÉ-ESCOLA A.

Cada vez mais tem se falado sobre a importância e as peculiaridades da educação infantil, seja nos cursos de Pedagogia e cursos de educação continuada, nos livros que trazem este assunto e mesmo nos documentos oficiais do MEC, como os Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (RCNEI), datados de 1998, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) de 2009, e agora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ainda a ser votada no ano de 2016.
Com base nas leituras dos materiais acima citados, é possível concluir que na educação infantil, a aprendizagem se encontra em toda a parte e a qualquer hora, e que deve priorizar o brincar, envolver o movimento, desenvolver a autonomia e oferecer diversas situações de aprendizagem que ofereçam oportunidades da criança desenvolver suas habilidades motoras, cognitivas e emocionais, sempre aliando o cuidar e o educar. De acordo com Barbosa e Horn, na Educação Infantil:

Todos os momentos podem ser pedagógicos e de cuidados no trabalho com crianças de 0 a 6 anos. Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao promove-las proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social. (2001, p.70)

É sabido que a aprendizagem se torna muito mais significativa quando parte do interesse das crianças e que permitir que elas tenham contato diariamente com letras e números provavelmente fará com que, cedo ou tarde manifestem interesse por estes assuntos. Será exemplificado a seguir, como pode se dar o trabalho em uma turma com crianças de 4 a 5 anos de idade, considerando todas as informações citadas até aqui.
Na Educação Infantil fala-se em situações de aprendizagem ou em intervenções do professor quando nos referimos a aula propriamente dita. Isto ocorre uma vez que a palavra “aula” nos remete a uma aula expositiva, onde o professor “dá” a sua aula e os alunos apenas a “recebem”, ou ainda em um momento específico em que o professor está ensinando algum conteúdo da grade curricular. Já na Educação Infantil, as situações de aprendizagem podem acontecer em todos os momentos da rotina diária, mesmo naqueles em que aparentemente as crianças não estão realizando nenhuma atividade específica. 
Entende-se por rotina, aquelas atividades realizadas diariamente, normalmente nos mesmos horários e que auxiliam o professor a organizar o seu planejamento, na medida em que tranquilizam as crianças, pois sabem o que vai acontecer a seguir, deixando-as mais seguras. Zabalza defende que as rotinas:

[...]atuam como as organizadoras estruturais das experiências cotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ainda, substituem a incerteza do futuro (principalmente em relação às crianças com dificuldade para construir um esquema temporal de médio prazo) por um esquema fácil de assumir. O quotidiano passa, então, a ser algo previsível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança e a autonomia. (1998, p.52)

Ainda sobre as rotinas, nas palavras de Barbosa:

Rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições de educação infantil[...]A importância das rotinas na educação infantil provém da possibilidade de construir uma visão própria como concretização paradigmática de uma concepção de educação e de cuidado. É possível afirmar que elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições e apresentam a proposta de ação educativa dos profissionais. (2006, p.35)
 Algumas ações fazem parte das rotinas de quase todas as turmas de Educação Infantil. A realização da chamada e a escolha do ajudante do dia são alguns exemplos, e muitas são as aprendizagens construídas pelas crianças nestes momentos. Dada a importância do contato das crianças com o mundo letrado, é comum que as paredes das salas de referência estejam enfeitadas com cartazes como calendário, ajudante do dia, aniversariantes, dente outros, mostrando alguns dos usos sociais da linguagem escrita.
Diariamente as crianças da pré-escola A fazem a contagem oral através do momento da chamada quando o ajudante do dia conta os colegas presentes. Após, com a ajuda da professora, o ajudante do dia pode colocar as fichas com os nomes e fotos dos colegas faltantes dentro de uma casinha feita com retalhos de E.V.A., e as demais fichas ficam no cartaz da chamada. A seguir, em conjunto, são contadas as fichas para ver a quantidade de meninos, de meninas e o total de crianças presentes.
Depois disso, as crianças tem contato com os números escritos quando é feito o calendário. Neste momento, a professora diz o dia do mês e o dia da semana, mostrando qual oficina eles tiveram naquela tarde, antes do início da aula. Além de identificar o dia atual, também é feita a contagem de quantos dias já passaram ou quantos faltam para o final de semana, ou ainda os dias que faltam para o aniversário de algum colega por exemplo. 
 É importante salientar que este calendário é separado por semanas, sendo que cada dia da semana é escrito com a sua inicial (D, S, T, Q, Q, S, S) e abaixo de cada um está colado um desenho que representa a oficina que as crianças têm naquele dia. Os dias do mês são móveis e estão organizados abaixo dos dias da semana, assim é possível ver quantas semanas tem cada mês, por exemplo. A cada início de tarde vira-se o dia que já passou e é mostrado o dia atual, dizendo-o em voz alta, por exemplo: “Hoje é segunda-feira, dia 23 de Julho. Hoje vocês tiveram a oficina de alemão. Amanhã é terça-feira, dia da oficina de Educação Física, por tanto não se esqueçam de vir de tênis.”. Já os meses estão escritos um abaixo do outro, deixando em evidência com um marcador, o mês atual. Assim que todos os dias daquele mês forem virados, coloca-se em evidencia o mês seguinte. Desta forma é possível mostrar, por exemplo, em que mês é aniversário de determinado colega, quando é natal, páscoa ou outras datas comemorativas. Este formato de calendário permite que as crianças tenham noções de tempo, uma vez que percebem que os dias passam rápido, que as semanas tem sete dias, que um mês pode ter de 28 a 31 dias e que portanto demora mais para passar, e que um ano demora muito para passar, pois dentro dele tem muitos dias, semanas e meses.
Outra atividade feita diariamente é a rotina do dia, que está exposta na sala através de desenhos pintados pelas crianças que representam ações realizadas por elas, como higiene, alimentação, pátio, brincar na sala, hora do conto, atividades no papel, dentre outras. Em cada turno são mostradas para as crianças as atividades que elas irão realizar, deixando-as desta forma mais seguras uma vez que sabem o que e quando vão fazer e quanto tempo aproximadamente falta para que possam ir para casa, por exemplo. 
Todas estas atividades são realizadas diariamente, mas algumas vezes são feitas de maneiras diversificadas, para que as crianças não percam o interesse. A chamada, por exemplo, algumas vezes é realizada a partir da brincadeira “O carteiro chegou”, quando o ajudante do dia carrega uma bolsa de carteiro com as fichas dos nomes dos colegas e precisa entregar cada ficha como se fosse uma carta. Neste caso, além de fazer a chamada brincando, as crianças ainda tem a oportunidade de reconhecer e identificar o nome dos colegas. Outras vezes cada colega na sua vez pode escolher uma das fichas que está virada para baixo, deverá identificar a qual colega pertence e entregar a ele que continuará com a brincadeira. Quem recebe o seu nome deverá agradecer dizendo obrigado, ou ainda com um abraço, beijo no rosto ou outra combinação prévia. Desta forma incentivamos o uso das “palavras mágicas” (por favor, com licença, obrigado) e também estimulamos a afetividade, promovendo o contato e o carinho entre os colegas.  Há inúmeras maneiras de se realizar a mesma chamada, basta usar a criatividade para encontrar a melhor forma. 
As atividades citadas até aqui que fazem ou deveriam fazer parte da rotina das turmas de educação infantil, duram apenas alguns minutos e nelas é possível identificar uma série de aprendizagens. Além do contato diário das crianças com letras, números e palavras, estas atividades também trabalham questões como a contagem oral, sequência numérica, reconhecimento dos algarismos, quantidade (muito, pouco, faltam, sobram, mais, menos), noções de tempo (ontem, hoje, amanhã, agora, depois), identificação do nome próprio e dos colegas, dentre outras coisas.

De acordo com o que nos orientam as diretrizes, a educação infantil deve:

Garantir experiências que:
ü   Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;

ü   Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais;” (2012, p.25 e 26)

Com base neste trecho das RCNEIS, e nas atividades descritas acima é possível concluir que muitas são as aprendizagens que as crianças constroem diariamente nos mais variados momentos a rotina. A aprendizagem está em toda a parte e em qualquer momento.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das experiências relatadas até aqui e com base nas reflexões feitas é possível concluir que aprender pode ser algo muito divertido para as crianças, que estão sempre abertas à novas aprendizagens e descobertas. Cabe ao professor estimular cada vez mais a curiosidade de suas crianças, trazendo atividades lúdicas sobre os mais variados assuntos, levando sempre em consideração os conhecimentos prévios e interesses de sua turma. Qualquer assunto pode ser ensinado quando for do interesse das crianças, desde que adaptado faixa etária delas, e certamente aprender brincando, possibilita que as aprendizagens construídas sejam muito mais significativas.
Assim sendo, o professor de educação infantil, deve oportunizar em suas intervenções, experiências com diversos materiais, incentivando a descoberta, aproximando as crianças da cultura letrada de forma lúdica, aproveitando os momentos da rotina e suas curiosidades para auxiliá-las a construírem suas aprendizagens. Nas palavras de Junqueira Filho:

[...] devemos estar preparados para responder às crianças a altura da sua curiosidade – para não desperdiçarmos suas potencialidades, para não lhes negar o conhecimento a que têm direito, para não desanimá-las e confundi-las, nem empobrecê-las nas suas iniciativas de se relacionar com a complexidade do mundo.” (2001, p.141)

Em outras palavras, o professor de educação infantil deve ser um mediador e oportunizar que o seu aluno desenvolva-se como sujeito, sem deixar de viver a sua infância. E a escola deveria ser transformada “[...] num espaço de maior criatividade, liberdade e ludicidade, no qual a criança pudesse desenvolver a sua autonomia, tornando-se agente do seu próprio caminhar, construtora de si mesma durante o brincar.” (Horn et al. 2014, p. 143). Para alcançar estes objetivos é fundamental que o professor esteja disposto a aprender sempre, buscando novas alternativas para tornar suas aulas significativas e prazerosas, tanto para si, quanto para as crianças. Estas por sua vez, tem muito a nos ensinar. Nós enquanto adultos e professores, precisamos aprender a olhar o mundo com olhos de criança, e passar a ver oportunidades onde antes não víamos nada de especial.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. 240p.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira.  HORN, Maria da Graça Souza. Organização do Espaço e do Tempo na Escola Infantil, in CRAIDY, Carmen Maria. KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (org). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 67-79..

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1: Introdução.

________, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/ Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2010.

________,  Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências.


DORNELLES. Leni Vieira. Na Escola Infantil todo Mundo Brinca se Você Brinca, in CRAIDY, Carmen Maria. KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (org). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001, p.101-108.

FILHO, Gabriel de Andrade Junqueira. Conversando, Lendo e Escrevendo com as crianças na Educação Infantil, in CRAIDY, Carmen Maria. KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (org). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001, p.135-152.

FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos Espaços na Educação Infantil, in ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 229-280.

FORTUNA, Tãnia Ramos. A importância de Brincar na infância, in HORN, Cláudia Inês et al. Pedagogia do Brincar. Porto Alegre: Mediação, 2014. p.13-44..

HORN, Cláudia Inês et al. Jogar e brincar com materiais de baixo custo, in
Pedagogia do Brincar. Porto Alegre: Mediação, 2014. p. 81-143

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 288.





















[1] Pedagoga formada pela universidade Feevale. Professora de educação infantil pelas redes municipais de Picada Café e Nova Petrópolis – E-mail: andrea.diana.h@gmail.com
[2] Professora Orientadora.  E-mail: angelita@censupeg.com.br

sexta-feira, 11 de março de 2016

Aprendizagem lúdica


 Jogo da velha de Páscoa para jogar com as famílias!




Jogo confeccionado com ajuda das professoras Valmíria e Aline (turma 51).


Jogo confeccionado com auxílio da professora Aline e da mãe Everlin, que costurou os saquinhos (pré-A).
 
 

 Jogo da velha de Páscoa com bambolês



Trilha contra a dengue


Atividade realizada por mim com base no rali da dengue pesquisado no blog abaixo: