EDUCAÇÃO
INFANTIL: A LUDICIDADE COMO FOCO DA APRENDIZAGEM E OS SABERES “ESCONDIDOS” NAS
ROTINAS.
Andréa
Diana Heylmann[1]
Angelita Fülle [2]
Resumo
Este artigo busca esclarecer algumas questões que
dizem respeito ao trabalho na educação infantil, tendo a ludicidade como
caminho para a construção das aprendizagens. Para tanto, no decorrer do texto,
temas como a rotina da educação infantil, influências do ambiente escolar,
atividades lúdicas, aprendizagem significativa se entrelaçam mostrando que é
possível rimar aprender com prazer, utilizando o brincar como ferramenta de
trabalho na educação infantil. Como fundamentação teórica deste estudo,
trazemos autores como Tãnia Ramos Fortuna, Miguel A. Zabalza, Cláudia Inês Horn,
Maria Carmen Silveira Barbosa, Maria da Graça Souza Horn, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil, que embasam as atividades lúdicas descritas no corpo
do artigo. Podemos inferir que é
possível construir com as crianças da educação infantil, nos mais variados
momentos do dia, diversas aprendizagens significativas tendo como base a
ludicidade.
Palavras-chave: Educação Infantil. Ludicidade.
Rotinas. Aprendizagem Significativa.
1.INTRODUÇÃO
A proposta de
desenvolver a aprendizagem através de metodologias lúdicas, desde a Educação
Infantil até aos anos iniciais do Ensino Fundamental, auxilia no
desenvolvimento de habilidades e competências de maneira efetiva. Contudo, o
que se tem visto atualmente é que muitas escolas de educação infantil,
priorizando o ensino das letras e números com o intuito de preparar as crianças
para o seu ingresso no Ensino Fundamental, acabam por limitar o tempo de
brincar. Outras escolas por sua vez, de cunho assistencialista, priorizam o
cuidar alegando que a criança tem a vida inteira pela frente para aprender e
que nesta idade precisam apenas brincar. Assim sendo, estas escolas propõe
momentos para as crianças brincarem livremente, mas sem objetivos específicos
para isso.
Sabe-se da
importância que o brincar tem no desenvolvimento das crianças, e que muitas
vezes, ele deve ter um fim em si mesmo, ou seja, que este seja um momento
prazeroso para as crianças sem que se tenha qualquer outro objetivo a não ser o
brincar propriamente dito. Todavia também é sabido que as brincadeiras com
objetivos bem esclarecidos podem se tornar importantes aliados na construção de
aprendizagens.
Ao
encontro disso, o presente artigo busca tecer uma importante reflexão a
respeito de como as atividades presentes nas rotinas das escolas de educação
infantil e a ludicidade podem favorecer a aprendizagem das crianças.
Inicialmente
serão feitas algumas considerações sobre a educação infantil e após a
ludicidade será abordada a partir de uma fundamentação teórica sobre a
aprendizagem lúdica, somando a isto alguns exemplos de atividades. A seguir
será feito um breve relato sobre as aprendizagens construídas pelas crianças a
partir de momentos da rotina, e finalizando, serão apontadas as conclusões
chegadas com este estudo.
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO
INFANTIL
De
acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI),
datada de 2010, o trabalho com crianças nesta etapa da educação básica, que
compreende crianças entre 0 e 5 anos de idade, está pautado em dois eixos que
são as brincadeiras e as interações. Assim sendo, o trabalho do professor de
educação infantil não é preparar aulas e sim propor intervenções, nas quais ele
se preocupa em preparar para seus alunos, um ambiente rico em estímulos, com
materiais concretos, brinquedos, brincadeiras e atividades lúdicas. O aluno da
educação infantil, que nesta etapa da educação básica é chamado apenas de
criança, aprende através de suas interações com este ambiente. Vale ressaltar
que se entende por ambiente, além dos espaços físicos, materiais e brinquedos
que estão à disposição das crianças na sala de referência, (forma pela qual nos
referimos às salas de aula na educação infantil), também as relações que
ocorrem nestes espaços. Forneiro define o ambiente escolar da seguinte forma:
Quando
entramos em uma escola, as paredes, os móveis e a sua distribuição, os espaços
mortos, as pessoas, a decoração, etc. Tudo nos fala do tipo de atividades que
se realizam, da comunicação entre os alunos(as) dos diferentes grupos, das
relações com o mundo externo, dos interesses dos alunos(as) e dos professores
(as). (1998, p.232).
Já
o currículo da educação infantil de acordo com as diretrizes, é entendido na
seguinte perspectiva:
“...
conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das
crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,
artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o
desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.” (2010, p.12).
Em
outras palavras pode-se dizer que currículo é tudo que acontece nas escolas de
Educação Infantil, desde a chegada da criança até a sua saída. Não se refere
apenas as atividades dirigidas com objetivos específicos relacionados aos
assuntos em estudo, mas também a forma como planejamos os momentos de brincar,
os brinquedos e materiais que colocamos a disposição das crianças, a forma como
lidamos com as questões relacionadas ao desenvolvimento da sua autonomia, como
a alimentação, higiene, comportamento, dentre outros exemplos. Faz parte do
currículo pensar que tipo de cidadão queremos preparar com as nossas práticas
docentes.
Esclarecido
até aqui algumas informações sobre o trabalho nas escolas de educação infantil,
será refletido a seguir sobre algumas questões presentes no cotidiano destas
escolas no que diz respeito ao tipo de atividades desenvolvidas nestes espaços
e como estas podem ou não, favorecer a aprendizagens das crianças que ali se
encontram.
2.1 ATIVIDADES
LÚDICAS COMO ALIADAS ÀS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Que as crianças
aprendem com o corpo e consequentemente precisam de espaço para se
desenvolverem integralmente todos sabem. No entanto, inúmeros fatores
contribuem para que isto nem sempre seja possível. Seja a falta de vagas nas
escolas de educação infantil, o crescente aumento do número de matriculas nas
pré-escolas a partir do ano de 2016, que por meio da Lei nº 12.796, de 4 de
abril de 2013 torna obrigatória a frequência de crianças de 4 a 6 anos na
educação infantil, salas de aula pequenas, construções inadequadas sem o
planejamento de espaços adequados,
dentre
outros fatores. Dadas as circunstâncias, o que pretendemos aqui é pensar em
alternativas para que o professor possa tirar o maior proveito possível do
espaço da escola, bem como da sua sala de referência, buscando fazer com que as
crianças desenvolvam atividades significativas, tendo como foco a ludicidade.
Entende-se
por lúdico, toda e qualquer atividade prazerosa e divertida proporcionada à
crianças ou adultos que remetem ao entretenimento, ao jogar e ao brincar. Indiferente
se for um jogo ou brincadeira dirigida por um adulto, ou uma brincadeira de faz
de contas, ou então, brinquedos diversos em momentos livres. E o grande desafio
das escolas é aliar o lúdico à aprendizagem, Fortuna defende que:
Uma
escola ludicamente inspirada é aquela em que as características do brincar
estão presentes, influindo no modo de ser do professor e no papel do aluno.
Nessa escola, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável. O professor
renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a
importância de que a criança tenha uma postura ativa nas situações de
aprendizagem. A espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas.
[...] Uma escola lúdica é uma escola que assume o brincar: atividade livre,
criativa, imprevisível, capaz de absorver a pessoa que brinca, não centrada na
produtividade. Como brincar, na concepção de Winnicott, é um modo particular de
viver, é preciso aprender a brincar para viver com prazer e, por extensão,
aprender com prazer. (2014, p.29.)
O
professor ao planejar as suas intervenções deve buscar soluções para que os
seus alunos possam aprender com prazer, e em se tratando de educação infantil,
desde os primeiros meses de vida já é possível ofertar ao bebê uma série de
experiências sensoriais que promovam a descoberta do mundo que o cerca, de
maneira divertida. A partir do momento em que o bebe é colocado em contato com
diversas experiências sensoriais, como exploração de brinquedos e objetos de
variadas texturas, cores, sons, aromas e temperaturas, ele se desenvolve em
diversos aspectos ao mesmo tempo em que brinca.
Já
maiores, as crianças costumam aprender melhor quando podem interagir com o
corpo todo e quando o assunto a ser aprendido é significativo para elas. Usar materiais concretos que podem ser
manipulados, participar ativamente das atividades propostas, sair da sala de
aula e aprender observando o mundo a sua volta são algumas das possibilidades
de se desenvolver uma aprendizagem lúdica.
Antes
de realizar as atividades no papel a criança precisa usar o corpo. Ela só
estará pronta para desenvolver a motricidade fina quando já teve a oportunidade
de desenvolver a sua motricidade ampla, por isto é importante permitir que as
crianças brinquem com massa de modelar e tintas comestíveis desde os primeiros
meses de vida para que possam se sujar e descobrir os limites do seu corpo e do
papel, assim como os efeitos que suas ações causam em interação com
determinados materiais.
Outro
grande aliado do professor e das crianças na construção de aprendizagens significativas
é o espaço escolar, mas para que isto aconteça, é imprescindível que se deixe
de ver a sala de referência como única possibilidade. É fundamental desenvolver
atividades ao ar livre, seja no pátio ou até mesmo no entorno escolar,
promovendo passeios de estudos, expedições investigativas, dentre outras
situações. Ou ainda, explorar os demais espaços da escola, usando a biblioteca
(quando houver), para fazer contação de histórias ou apenas para manipular
livros, realizar atividades no refeitório, como o preparo de uma receita, por
exemplo. Dornelles defende uma educação significativa na passagem a seguir:
Onde
está o movimento da descoberta, do prazer, da alegria, da vida, das emoções e
do encantamento que rodeiam, a vida de muitas das nossas crianças? Muitas vezes
damos lugar em nossas salas de aula apenas para o controle, a privação, a
punição, a vigilância, o governo de si e do outro. Precisamos, em muitos casos,
também resgatar o espaço do lúdico pelo lúdico, passear para curtir o que está
ao nosso redor, assistir a um filme apenas por assistir, ouvir ou contar
histórias ou teatros pelo mágico que eles carregam, curtir uma praça para poder
rolar na grama, curtir o que é inerente a cada um desses espaços e não apenas
para chegarmos na sala e termos que desenhar o que se viu ou ouviu, contar na
hora da novidade o que as crianças mais gostaram no passeio, contar o que
aconteceu no início, meio e fim da história, do teatro. Parece que tudo, na
escola infantil, está sendo excessivamente pedagogizado,
perdendo-se a idéia de prazer, que está inerente a cada atividade da criança. O
prazer do brincar e esquecemos que: olhar, curtir, tocar, experimentar faz
parte do ser criança, faz parte da
descoberta na infância e da construção de novos sujeitos-criança. (2001, p.107)
Embora todas as salas de referência tenham
classes individuais ou mesas para as crianças sentarem em pequenos grupos, é
importante que elas permaneçam sentadas em suas cadeiras apenas durante as
atividades onde o seu uso se faça necessário, como nos casos de jogos de
tabuleiro, folhas de papel, massa de modelar, dentre outras. Crianças pequenas
precisam estar em constante movimento, por tanto as atividades devem ser curtas
e priorizar o movimento do corpo, pois ao contrário dos adultos, as crianças
não conseguem permanecer sentadas por longos períodos. Uma boa alternativa é
intercalar momentos sentados em roda no tapete, brincar livremente com
brinquedos a escolha do professor ou das crianças, atividades que necessitem do
uso das mesas, brincadeiras dirigidas, dentre outras. O professor ao planejar a sua prática deve
ter em mente que existem inúmeras atividades e brincadeiras que oportunizam
aprendizagens muito mais significativas do que aquelas de pintar, recortar,
desenhar, e outras.
Para
ensinar números e quantidades, por exemplo, pode-se fazer brincadeiras com
dados. Por exemplo, após jogar um dado com os algarismos até 6, será possível
trabalhar o reconhecimentos números e a contagem oral. Depois de verificar o
numeral sorteado pelo dado, as crianças deverão contar e selecionar crianças na
quantidade equivalente, colocando-as dentro de um círculo desenhado no chão, em
uma caixa bem grande, ou ainda sobre um banco, dentre outras possibilidades. Com
esta atividade, além dos conteúdos de matemática, também poderão exercer o
direito de escolher e de ser escolhido, saber esperar a sua vez, movimentar-se,
dentre outras possibilidades.
Ainda
sobre os números, pode se fazer dentro da sala ou no pátio, uma pescaria com
auxílio de uma banheira com água e um coador preso em uma vareta ou cabo de
vassoura. Cada criança terá a oportunidade de pescar peixinhos feitos com
E.V.A. da banheira e depois deverão realizar a contagem oral dos mesmos.
Poderão ainda classificá-los de acordo com as cores e tamanhos, coloca-los em
sequência seguindo a ordem de tamanho por exemplo. Num momento seguinte,
poderão registrar no papel desenhando os peixinhos nas quantidades, cores e
tamanhos equivalentes. Enfim, com apenas
uma atividade lúdica, é possível trabalhar ao mesmo tempo diversos conteúdos.
Para
reconhecer e identificar as letras pode ser feita uma atividade com todas as
crianças de pé, em roda no centro da sala com um grande círculo desenho no
chão. Cada uma receberá a ficha do seu nome e a professora fará o sorteio de
uma letra. Aquelas crianças que tiverem dentro de seu nome a letra sorteada,
deverão colocar-se dentro do círculo desenhado no chão. Em conjunto será feita
a contagem oral da quantidade de crianças da turma que tem a mesma letra. Nesta
atividade, além de letras e números, as crianças também aprenderam a prestar
atenção, observar o seu nome em busca da letra solicitada, identificar letras
comuns no nome dos colegas, descobrindo que as mesmas letras, mas em posições
diferentes servem para escrever palavras e nomes diferentes. Também puderam se
movimentar e perceber que dentre um grupo grande de crianças, é possível formar
grupos menores, e além da contagem oral de crianças ainda descobriram que letra
se repete mais entre os nomes e qual menos. Em apenas alguns minutos durante a
realização de uma atividade lúdica, as crianças puderam ter uma série de
aprendizagens.
Para
aprender mais sobre fenômenos da natureza, animais ou plantas é fundamental
observar e investigar, buscando incentivar a curiosidade das crianças,
permitindo desta forma que desenvolvam o desejo de aprender. Promover passeios
pelo pátio ou arredores da escola, convidando pessoas da comunidade para dar
palestras sobre os assuntos estudados, sugerindo passeios a eventos culturais,
zoológicos, enfim, as possibilidades são várias.
Oferecer
sucatas para as crianças criarem suas brincadeiras de faz de contas, ou ainda,
incrementar estas brincadeiras colocando a disposição delas objetos que possam
enriquecer as suas fantasias são ótimas opções para que as crianças aprendam na
medida em que se divertem. Ao brincar de casinha, médico, mercadinho, por
exemplo, as crianças estão assumindo diversos papeis sociais, ao passo que
estão tendo contato com o mundo letrado, uma vez que podem “escrever” listas de
compras, receitas, marcar consultas, “ler” bulas e rótulos, etc. Também podem
escolher seus parceiros para as brincadeiras, negociar entre si quem irá
desempenhar determinadas funções, montar os cenários, dividir
responsabilidades. Através das brincadeiras de faz de contas, as crianças
desenvolvem a sua autonomia, a criatividade, a imaginação e ainda aproximam-se
brincando da cultura letrada.
Todas
as atividades citadas até o presente momento favoreceram o movimento da
criança, ou seja, elas aprenderam letras, números e quantidades e outros
assuntos específicos, mas em momento algum deixaram de brincar e se movimentar,
o que é fundamental em se tratando de crianças.
Privar
a criança de viver intensamente em favor de um treinamento mecânico é represar
sua energia, é não aproveitar suas capacidades, é podar-lhe a curiosidade, sua
abertura para explorar o meio em que vive, é substituir a aprendizagem
significativa pelo condicionamento, enfim, impedi-la de ser criança enquanto
criança. (Horn, et al. 2014, p.144)
Mesmo
em sala de aula, as atividades devem ser diversificadas, dinâmicas e lúdicas. O
professor pode trazer vídeos educativos sobre os assuntos em estudo, como por
exemplo, o habiat natural, nascimento e alimentação de determinados animais.
Muitos
jogos e brincadeiras também podem ser confeccionados e utilizados como
ferramentas de aprendizagem, tornando assim as aulas mais interessantes. Jogos
como “O jogo da forca”, “O carteiro chegou” são interessantes quando o objetivo
é a aprendizagem do nome próprio ou o contato com as letras. Confeccionar jogos
de bingo, de memória, quebra cabeças são ótimas alternativas e podem ser
utilizados de acordo com os assuntos estudados nos projetos de aprendizagem
desenvolvidos. Usar materiais reciclados na confecção dos jogos, como tampinhas
de garrafas, caixas de leite e outros ensina as crianças ainda sobre a
sustentabilidade.
Para
trabalhar números e quantidades, brincadeiras com dados podem ser úteis. Um
exemplo disso é colar escamas na sereia Yara, personagem do folclore
brasileiro, na quantidade equivalente ao número sorteado. Neste caso, além de
identificar o algarismo no dado, a criança terá que pegar e colar na sua
sereia, escamas equivalentes, mostrando se tem a correspondência termo a termo
ou se ainda precisa desenvolvê-la. Ainda de acordo com Horn:
Quando
o brincar alcança um maior espaço nas atividades desenvolvidas em sala de aula
ou as atividades apoiam-se no brincar livremente, torna-se pano de fundo da rotina
escolar, o que é suficiente e satisfatório para o desenvolvimento de qualquer
atividade e para uma aprendizagem significativa. (Horn et al.2014, p. 145)
Feita
a discussão sobre a importância das atividades lúdicas e brincadeiras para a
aprendizagem das crianças, passa-se agora a discorrer sobre as aprendizagens
construídas nos momentos de rotina, exemplificando a partir do relato de
experiências, o que foi trazido no primeiro capítulo do artigo, que se refere
ao currículo da educação infantil, que está presente em todos os momentos, e
não apenas nas atividades dirigidas.
2.2 APRENDIZAGENS PRESENTES NA ROTINA DA
EDUCAÇÃO INFANTIL: AS ATIVIDADES LÚDICAS DE CADA DIA REALIZADAS POR UMA TURMA
DE PRÉ-ESCOLA A.
Cada
vez mais tem se falado sobre a importância e as peculiaridades da educação
infantil, seja nos cursos de Pedagogia e cursos de educação continuada, nos
livros que trazem este assunto e mesmo nos documentos oficiais do MEC, como os
Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (RCNEI), datados de
1998, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) de
2009, e agora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ainda a ser votada no
ano de 2016.
Com
base nas leituras dos materiais acima citados, é possível concluir que na educação
infantil, a aprendizagem se encontra em toda a parte e a qualquer hora, e que
deve priorizar o brincar, envolver o movimento, desenvolver a autonomia e
oferecer diversas situações de aprendizagem que ofereçam oportunidades da
criança desenvolver suas habilidades motoras, cognitivas e emocionais, sempre
aliando o cuidar e o educar. De acordo com Barbosa e Horn, na Educação
Infantil:
Todos
os momentos podem ser pedagógicos e de cuidados no trabalho com crianças de 0 a
6 anos. Tudo dependerá da forma como se pensam e se procedem as ações. Ao
promove-las proporcionamos cuidados básicos, ao mesmo tempo em que atentamos
para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento
físico e social. (2001, p.70)
É
sabido que a aprendizagem se torna muito mais significativa quando parte do
interesse das crianças e que permitir que elas tenham contato diariamente com
letras e números provavelmente fará com que, cedo ou tarde manifestem interesse
por estes assuntos. Será exemplificado a seguir, como pode se dar o trabalho em
uma turma com crianças de 4 a 5 anos de idade, considerando todas as
informações citadas até aqui.
Na
Educação Infantil fala-se em situações de aprendizagem ou em intervenções do
professor quando nos referimos a aula propriamente dita. Isto ocorre uma vez
que a palavra “aula” nos remete a uma aula expositiva, onde o professor “dá” a
sua aula e os alunos apenas a “recebem”, ou ainda em um momento específico em
que o professor está ensinando algum conteúdo da grade curricular. Já na
Educação Infantil, as situações de aprendizagem podem acontecer em todos os
momentos da rotina diária, mesmo naqueles em que aparentemente as crianças não
estão realizando nenhuma atividade específica.
Entende-se
por rotina, aquelas atividades realizadas diariamente, normalmente nos mesmos
horários e que auxiliam o professor a organizar o seu planejamento, na medida
em que tranquilizam as crianças, pois sabem o que vai acontecer a seguir,
deixando-as mais seguras. Zabalza defende que as rotinas:
[...]atuam
como as organizadoras estruturais das experiências cotidianas, pois esclarecem
a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ainda,
substituem a incerteza do futuro (principalmente em relação às crianças com
dificuldade para construir um esquema temporal de médio prazo) por um esquema
fácil de assumir. O quotidiano passa, então, a ser algo previsível, o que tem
importantes efeitos sobre a segurança e a autonomia. (1998, p.52)
Ainda
sobre as rotinas, nas palavras de Barbosa:
Rotina
é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação infantil
estruturam para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas
instituições de educação infantil[...]A importância das rotinas na educação
infantil provém da possibilidade de construir uma visão própria como
concretização paradigmática de uma concepção de educação e de cuidado. É
possível afirmar que elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições e
apresentam a proposta de ação educativa dos profissionais. (2006, p.35)
Algumas ações fazem parte das rotinas de quase
todas as turmas de Educação Infantil. A realização da chamada e a escolha do
ajudante do dia são alguns exemplos, e muitas são as aprendizagens construídas
pelas crianças nestes momentos. Dada a importância do contato das crianças com
o mundo letrado, é comum que as paredes das salas de referência estejam
enfeitadas com cartazes como calendário, ajudante do dia, aniversariantes,
dente outros, mostrando alguns dos usos sociais da linguagem escrita.
Diariamente
as crianças da pré-escola A fazem a contagem oral através do momento da chamada
quando o ajudante do dia conta os colegas presentes. Após, com a ajuda da
professora, o ajudante do dia pode colocar as fichas com os nomes e fotos dos
colegas faltantes dentro de uma casinha feita com retalhos de E.V.A., e as
demais fichas ficam no cartaz da chamada. A seguir, em conjunto, são contadas
as fichas para ver a quantidade de meninos, de meninas e o total de crianças
presentes.
Depois
disso, as crianças tem contato com os números escritos quando é feito o
calendário. Neste momento, a professora diz o dia do mês e o dia da semana,
mostrando qual oficina eles tiveram naquela tarde, antes do início da aula.
Além de identificar o dia atual, também é feita a contagem de quantos dias já
passaram ou quantos faltam para o final de semana, ou ainda os dias que faltam
para o aniversário de algum colega por exemplo.
É importante salientar que este calendário é
separado por semanas, sendo que cada dia da semana é escrito com a sua inicial
(D, S, T, Q, Q, S, S) e abaixo de
cada um está colado um desenho que representa a oficina que as crianças têm
naquele dia. Os dias do mês são móveis e estão organizados abaixo dos dias da
semana, assim é possível ver quantas semanas tem cada mês, por exemplo. A cada
início de tarde vira-se o dia que já passou e é mostrado o dia atual, dizendo-o
em voz alta, por exemplo: “Hoje é segunda-feira, dia 23 de Julho. Hoje vocês
tiveram a oficina de alemão. Amanhã é terça-feira, dia da oficina de Educação
Física, por tanto não se esqueçam de vir de tênis.”. Já os meses estão escritos
um abaixo do outro, deixando em evidência com um marcador, o mês atual. Assim
que todos os dias daquele mês forem virados, coloca-se em evidencia o mês
seguinte. Desta forma é possível mostrar, por exemplo, em que mês é aniversário
de determinado colega, quando é natal, páscoa ou outras datas comemorativas.
Este formato de calendário permite que as crianças tenham noções de tempo, uma
vez que percebem que os dias passam rápido, que as semanas tem sete dias, que
um mês pode ter de 28 a 31 dias e que portanto demora mais para passar, e que
um ano demora muito para passar, pois dentro dele tem muitos dias, semanas e
meses.
Outra
atividade feita diariamente é a rotina do dia, que está exposta na sala através
de desenhos pintados pelas crianças que representam ações realizadas por elas,
como higiene, alimentação, pátio, brincar na sala, hora do conto, atividades no
papel, dentre outras. Em cada turno são mostradas para as crianças as
atividades que elas irão realizar, deixando-as desta forma mais seguras uma vez
que sabem o que e quando vão fazer e quanto tempo aproximadamente falta para
que possam ir para casa, por exemplo.
Todas
estas atividades são realizadas diariamente, mas algumas vezes são feitas de
maneiras diversificadas, para que as crianças não percam o interesse. A
chamada, por exemplo, algumas vezes é realizada a partir da brincadeira “O
carteiro chegou”, quando o ajudante do dia carrega uma bolsa de carteiro com as
fichas dos nomes dos colegas e precisa entregar cada ficha como se fosse uma
carta. Neste caso, além de fazer a chamada brincando, as crianças ainda tem a
oportunidade de reconhecer e identificar o nome dos colegas. Outras vezes cada
colega na sua vez pode escolher uma das fichas que está virada para baixo,
deverá identificar a qual colega pertence e entregar a ele que continuará com a
brincadeira. Quem recebe o seu nome deverá agradecer dizendo obrigado, ou ainda
com um abraço, beijo no rosto ou outra combinação prévia. Desta forma
incentivamos o uso das “palavras mágicas” (por favor, com licença, obrigado) e
também estimulamos a afetividade, promovendo o contato e o carinho entre os
colegas. Há inúmeras maneiras de se
realizar a mesma chamada, basta usar a criatividade para encontrar a melhor
forma.
As
atividades citadas até aqui que fazem ou deveriam fazer parte da rotina das
turmas de educação infantil, duram apenas alguns minutos e nelas é possível
identificar uma série de aprendizagens. Além do contato diário das crianças com
letras, números e palavras, estas atividades também trabalham questões como a
contagem oral, sequência numérica, reconhecimento dos algarismos, quantidade
(muito, pouco, faltam, sobram, mais, menos), noções de tempo (ontem, hoje,
amanhã, agora, depois), identificação do nome próprio e dos colegas, dentre
outras coisas.
De
acordo com o que nos orientam as diretrizes, a educação infantil deve:
“Garantir experiências que:
ü Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e
interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e
gêneros textuais orais e escritos;
ü Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações
quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais;” (2012, p.25 e
26)
Com
base neste trecho das RCNEIS, e nas atividades descritas acima é possível
concluir que muitas são as aprendizagens que as crianças constroem diariamente
nos mais variados momentos a rotina. A aprendizagem está em toda a parte e em
qualquer momento.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante
das experiências relatadas até aqui e com base nas reflexões feitas é possível
concluir que aprender pode ser algo muito divertido para as crianças, que estão
sempre abertas à novas aprendizagens e descobertas. Cabe ao professor estimular
cada vez mais a curiosidade de suas crianças, trazendo atividades lúdicas sobre
os mais variados assuntos, levando sempre em consideração os conhecimentos
prévios e interesses de sua turma. Qualquer assunto pode ser ensinado quando
for do interesse das crianças, desde que adaptado faixa etária delas, e
certamente aprender brincando, possibilita que as aprendizagens construídas
sejam muito mais significativas.
Assim
sendo, o professor de educação infantil, deve oportunizar em suas intervenções,
experiências com diversos materiais, incentivando a descoberta, aproximando as
crianças da cultura letrada de forma lúdica, aproveitando os momentos da rotina
e suas curiosidades para auxiliá-las a construírem suas aprendizagens. Nas
palavras de Junqueira Filho:
[...]
devemos estar preparados para responder às crianças a altura da sua curiosidade
– para não desperdiçarmos suas potencialidades, para não lhes negar o
conhecimento a que têm direito, para não desanimá-las e confundi-las, nem
empobrecê-las nas suas iniciativas de se relacionar com a complexidade do
mundo.” (2001, p.141)
Em
outras palavras, o professor de educação infantil deve ser um mediador e
oportunizar que o seu aluno desenvolva-se como sujeito, sem deixar de viver a
sua infância. E a escola deveria ser transformada “[...] num espaço de maior
criatividade, liberdade e ludicidade, no qual a criança pudesse desenvolver a
sua autonomia, tornando-se agente do seu próprio caminhar, construtora de si
mesma durante o brincar.” (Horn et al. 2014, p. 143). Para alcançar estes
objetivos é fundamental que o professor esteja disposto a aprender sempre, buscando
novas alternativas para tornar suas aulas significativas e prazerosas, tanto
para si, quanto para as crianças. Estas por sua vez, tem muito a nos ensinar.
Nós enquanto adultos e professores, precisamos aprender a olhar o mundo com
olhos de criança, e passar a ver oportunidades onde antes não víamos nada de
especial.
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ZABALZA,
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[1] Pedagoga formada pela
universidade Feevale. Professora de educação infantil pelas redes municipais de
Picada Café e Nova Petrópolis – E-mail: andrea.diana.h@gmail.com
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